quarta-feira, 20 de agosto de 2008

TSEBELIS, George. Jogos Ocultos. EDUSP: São Paulo, 1998.

TSEBELIS, George. Jogos Ocultos. EDUSP: São Paulo, 1998.
Estrutura: 1. Jogos ocultos e racionalidade. 2. Em defesa do enfoque da escolha racional. 3. Jogos de duas pessoas com payoffs variáveis. 4. Jogos com regras variáveis, ou a política da mudança institucional. 5. Por que os militantes do partido trabalhista britânico cometem suicídio político? 6. O consociacionalismo na perspectiva da escolha racional. 7. A coesão das coligações eleitorais francesas.
Resumo:

Jogos ocultos e racionalidade. Algumas escolhas aparemente sub-ótimas, onde um ator escolhe uma alternativa que parece ir contra os seus próprios interesses, ou que pode não ser a melhor no cenário existente. As pessoas tentam comportar-se de uma maneira que promova ao máximo a realização de seus objetivos implícitos, as escolhas sub-ótimas, logo o comportamento ótimo para um é o sub-ótimo para o outro. O estudo de toda a rede de jogos em que o ator está envolvido revelará as motivações desse ator e explicará o seu comportamento. Democracias contem situações nas quais os jogos não são jogados de maneira isolada, as escolhas podem parecer sub-ótimas. Os jogos ocultos são a lógica da escolha aparentemente sub-ótima. A premissa segundo a qual as pessoas promovem ao máximo a realização de seus objetivos não é o único ponto de partida possível para uma explicação da escolha sub-ótima. A atividade humana é orientada pelo objetivo e é instrumental e que os atores individuais e institucionais tentam promover ao máximo a realização de seus objetivos. Este é o pressuposto da racionalidade, correspondência entre os fins e os meios. Os atores políticos respeitam as exigências do comportamento racional, os fatores contextuais ou institucionais têm uma importância predominante nas situações- em que os atores não escolhem a alternativa aparentemente ótima porque estão envolvidos em jogos ocultos.

Em defesa do enfoque da escolha racional. A racionalidade nada mais é que uma correspondência ótima entre fins e meios, mas não o único possível na política. Tendo a obediência às prescrições da teoria dos jogos sempre que os indivíduos interagem entre si. A definição simples de racionalidade impõe ao ator muitas exigências. Com relação às exigências da racionalidade, o que o enfoque da escolha racional não é: (i) Teorias sem atores: as explicações dos fenômenos sociais ou políticos são fornecidas em termos holísticos, em referência ao sistema como um todo; embora a existência de atores racionais não seja negada, o estudo de seus processos de tomada de decisão é considerado secundário ou desimportante. (ii) Teorias com atores não-racionais: a fonte da não-racionalidade não pode ser os objetivos do ator; os objetivos podem ser egoístas ou altruístas, idealistas ou materialistas; a única fonte de não-racionalidade deve ser uma ruptura na relação entre meios e fins em nossa definição de racionalidade.

O que o enfoque da escolha racional é. A tarefa aqui é derivar as implicações da correspondência meios e fins no que concerne à definição de racionalidade. As exigências fracas de racionalidade asseguram a coerência interna entre preferências e crenças, e exigências fortes de racionalidade, introduzem exigências de validação externa (a correspondência das crenças com a realidade). (i) Exigências Fracas de Racionalidade: (a) a impossibilidade de crenças ou preferências contraditórias, se um ator tem crenças contraditórias, ele não pode raciocinar; (b) a impossibilidade de preferências intransitivas, e (c) obediência aos axiomas do cálculo de probabilidades. Os atores racionais maximizam a sua utilidade esperada. As primeiras duas referem-se ao comportamento do ator racional sob condições de certeza; a terceira regula o comportamento do ator racional sob situação de risco. (ii) Exigências Fortes de Racionalidade; as exigências fortes de racionalidade estabelecem uma correspondência entre crenças ou comportamento e o mundo real; a discussão que segue concerne à distinção entre crenças, probabilidades e estratégias, conduzindo à prova de três exigências fortes de racionalidade: (a) as estratégias são mutuamente ótimas em equilíbrio ou, em equilíbrio, os jogadores obedecem às prescrições da teoria dos jogos; (b) em equilíbrio, as probabilidades aproximam-se das freqüências objetivas; (c) em equilíbrio, as crenças aproximam-se da realidade. (iii) É realista o enfoque da escolha racional? Os jogos políticos (ou a maioria deles) estruturam igualmente a situação, e que o estudo dos atores políticos sob o pressuposto da racionalidade é uma aproximação legítima de situações, motivações, cálculos e comportamentos reais. Cinco argumentos para demonstrar o motivo pelo qual os indivíduos tentam os cálculos descritos, ou pelo qual adotam o comportamento prescrito por tais cálculos, ou ainda pelo qual mediante esses cálculos é possível aproximar-se do resultado agregado das ações individuais: (a) relevância das questões e da informação; (b) aprendizado; (c) a heterogeneidade dos indivíduos; (d) seleção natural; (e) estatística. (iv) As vantagens do enfoque da escolha racional; tal enfoque apresenta quatro vantagens principais sobre os seus concorrentes: clareza e parcimônia teóricas, análise de equilíbrio, uso extensivo do raciocínio dedutivo e intercambialidade entre os indivíduos.

Jogos de duas pessoas com payoffs variáveis. Os dois tipos de jogos ocultos (jogos em múltiplas arenas e projeto institucional), em princípio, requerem tratamento equivalente, Na prática, contudo, há uma assimetria. A fundamentação teórica dos jogos em múltiplas arenas: são jogos com payoffs variáveis, em que os payoffs do jogo na arena principal são influenciados pela situação prevalecente em outra arena. A discordância entre ator e observador deriva ou de uma escolha errada por parte do ator, ou da perspectiva incompleta do observador. Quando pressupomos a racionalidade do ator, o primeiro caso (o menos importante) é eliminado. O caso restante pode ser explicado pela estrutura de jogos ocultos na qual as escolhas parecem ser sub-ótimas num jogo porque o observador não leva em consideração que o jogo na arena principal está inserido dentro de uma rede de outras arenas, ou num jogo de ordem superior em que as próprias regras são variáveis. Dentro desse enfoque de escolha racional e admitindo que haja informação adequada, o conceito de jogos ocultos é a única explicação para a escolha de estratégias aparentemente sub-ótimas. Regra fundamental: Para encontrar a solução de um problema, a teoria dos jogos sustenta que as regras do jogo (que determinam as estratégias disponíveis) e os payoffs dos jogadores são fixos. Uma vez fixadas as regras e os payoffs, os atores escolhem estratégias ótimas para si mesmos; cada jogador escolhe uma estratégia que maximize o seu payoff, levando em conta o que os outros jogadores fazem. Esta exposição especifica que a teoria dos jogos não deixa espaço para a ação sub-ótima.

Como pode existir a ação sub-ótima. Há dois casos em que o ator escolhe de maneira sub-ótima: se não puder escolher racionalmente ou se cometer um erro. O segundo caso não pode ocorrer com freqüência, pois, se o ator reconhece que estava enganado, é de presumir que corrija o seu comportamento. Há também dois casos em que o observador pode não reconhecer o curso racional da ação. Primeiro, o observador comete um erro, pensando que a ação é ótima, quando não é. Segundo observador não enxerga a totalidade de ações possíveis. O argumento principal deste livro é que, se, com informação adequada, a escolha de um ator parecer sub-ótima, é porque a perspectiva do observador está incompleta. O observador centra a sua atenção em apenas um jogo, mas o ator está envolvido em toda uma rede de jogos - o que chamo de jogos ocultos. O que parece sub-ótimo a partir da perspectiva de um único jogo é na verdade ótimo quando é considerada toda a rede de jogos. Há duas razões principais para a discordância entre ator e observador. Primeiro, a opção escolhida não é ótima porque o ator está envolvido em jogos em diversas arenas, mas o observador centra a sua atenção na arena principal. O observador desaprova as escolhas do ator porque vê as implicações das escolhas do ator apenas na arena principal. jogos em múltiplas arenas. Jogos em múltiplas arenas introduzem o contexto político em problemas da teoria dos jogos. Os payoffs dos jogadores na arena principal variam de acordo com a situação predominante em outras arenas, ou de acordo com os movimentos efetuados pelos jogadores nessas arenas. A utilidade dos jogos em múltiplas arenas reside no estudo de situações em que o contexto político é importante e a situação é tão complicada que se torna necessário referir-se a fatores exógenos.

Aumentar as opções disponíveis. O ator pode escolher uma estratégia sub-ótima num jogo se essa estratégia conseguir maximizar os seus payoffs. Dessa maneira, as mudanças institucionais podem ser explicadas como planejamento consciente pelos atores envolvidos. Desse modo, o projeto institucional fornece uma maneira sistemática de pensar a respeito das instituições política. Tecnicamente falando, ainda, a mudança institucional é apresentada como um problema de maximização intertemporal, onde surgem complicações porque eventos futuros não podem ser claramente antecipados. A informação disponível a respeito de eventos futuros é de crucial importância para a escolha de tipos diferentes de instituições. Na presença de informação adequada, se os atores não escolhem o que parece ser a estratégia ótima é porque estão envolvidos em jogos ocultos: jogos em múltiplas arenas ou projeto institucional. Jogos em múltiplas arenas são representados tecnicamente por jogos com payoffs variáveis. Os fatores contextuais determinam as variações dos payoffs e são refletidos por eles. O payoff do jogo na arena principal varia de acordo com a situação prevalecente nos outros jogos, e os atores maximizam a sua ação quando levam em conta esses payoffs variáveis. A expressão projeto institucional refere-se à inovação política referente às regras do jogo. Os atores escolhem entre os diferentes jogos possíveis. Nesse caso, ampliam o seu espaço estratégico e escolhem uma opção que antes não estava disponível.

Jogos com regras variáveis, ou a política da mudança institucional. Projeto institucional. As instituições são divididas em eficientes, aquelas que promovem os interesses de todos ou da maioria dos atores, e redistributivas, aquelas que promovem os interesses de uma coalizão contra outra. As redistributivas se subdividem em instituições de consolidação instituições destinadas a promover os interesses dos vencedores e instituições de tipo Ilew deal, instituições destinadas a dividir as coligações existentes e transformar perdedores em vencedores. Alguns, marxistas sobretudo, vêem as instituições exclusivamente como redistributivas; outros economistas, principalmente vêem-nas como exclusivamente eficientes. Mudanças em payoffs ou instituições levamos atores a modificar as suas escolhas de estratégias (de equilíbrio). Conseqüentemente, o contexto político e as instituições políticas influenciam de maneira .previsível. Condições necessárias. Classificação dos diferentes tipos de projeto institucional e discussão das condições sob as quais é provável que ocorram.

Por que os militantes do partido trabalhista britânico cometem suicídio político? Interação entre as massas e as elites num contexto de competição eleitoral. Um jogo está oculto num jogo de competição eleitoral entre os partidos. Um tal comportamento suicida é enigmático dentro de um quadro de escolha racional. Os fenômenos de conflitos de reindicação do candidato para disputar a cadeiras e as suas conseqüências destrutivas são estudados na forma de um jogo repetido entre eleitores militantes, MPs em atividade e líderes trabalhistas. Considera-se ótimo o comportamento aparentemente suicida dos militantes nesse jogo oculto porque tem a ver com a construção de uma reputação de firmeza que irá desencorajar a moderação dos seus representantes.

O consociacionalismo na perspectiva da escolha racional. O jogo principal é a interação entre as elites. Tal interação, porém, é influenciada pela interação entre cada elite política e as massas que ela representa. O jogo principal é parlamentar e está oculto num jogo entre as elites e as massas. Profundas clivagens políticas e sociais não levam a situações explosivas e instáveis enquanto as elites políticas atuarem de maneira contemporizadora. Billiet (1984) e Dierickx (1978) afirmam que o que explica o comportamento contemporizador das elites nos países consociacionais é a possibilidade de negociação de pacotes (package deals*) contra questões específicas: em questões de importância assimétrica é possível a barganha de votos. Se essas explicações estivessem corretas, haveria duas conseqüências. Em primeiro lugar, as elites não teriam motivos para iniciar conflitos políticos. Em segundo lugar, não haveria necessidade de instituições consociacionais, ou seja, instituições especialmente concebidas para minimizar o conflito. Segundo essas teorias, tanto a deflagração de um conflito quanto a instituição consociacional parecem constituir atividades subótimas.

A coesão das coligações eleitorais francesas. Mostra como coligações vencedoras diferentes adotam instituições de consolidação diferentes A conclusão do enfoque dos jogos ocultos é que as transferências de votos são determinadas pelo balanço das forças num distrito. Esse balanço inclui a força relativa das coligações e a força relativa dos parceiros dentro de cada coligação. A vantagem teórica da abordagem jogos ocultos é que ela demonstra que todos os partidos obedecem às mesmas leis e se comportam de maneira similar no que concerne à coesão da coligação e à transferência de votos. A comparação da abordagem jogos ocultos com explicações alternativas tais como modelos espaciais, pesquisa de opinião (Jaffré 1980) e abordagens psicosociológicas. Converse e Pierce, (1986) Rochon e Pierce (1985) indicam diversas vantagens desse enfoque: parcimônia teórica, congruência com outras teorias existentes e precisão descritiva. A performance da abordagem jogos ocultos em cada estudo de caso não deve afastar os leitores da questão principal: todos os casos empíricos, que vão da política de coligação à política partidária, e de questões de ideologia a questões de consolidação institucional, são aplicações da mesma teoria. O objetivo essencial deste livro é demonstrar que o contexto político e as instituições políticas se comportam de maneira previsível.

Marcos Katsumi Kay – N1

Um comentário:

Viegas disse...

Gostei do resumo esta quase tudo que encontramos no proprio livro de jogos ocultos